terça-feira, 10 de outubro de 2017

Sobre Parte da Minha Alma


RESGATE DE UMA PARTE DA ALMA


No sábado a noite assisti na casa da Sthefany um pedaço da novela Por Amor, a qual não acompanho. Aquilo mexeu absurdamente comigo, me trazendo um astral de extrema depressão. Piorou muito quando tocou na trama a música How Could An Angel Brake My Heart, da Whitney Houston. Mergulhei numa sensação de extrema depressão, talvez a mais intensa que eu já tenha sentido na vida. E aparentemente sem nenhum motivo. Era uma sensação horrível de morte e irrealidade, como se aquela novela fosse a lembrança de uma enorme tragédia. Senti como se pesasse uma tonelada, e a sensação de que minha vida tivesse desmoronando. Nas chamadas de intervalo aparecia uma mensagem aparentemente subliminar: uma menina loira em um retrato, com cara de deprimida; aquilo me incomodava intensamente!  Não entendia o porquê de tudo aquilo, mas enquanto assistia lembrei de algumas coisas que vivi na época em que passava aquela novela, como as fossas ouvindo a tal música, ou a idéia do meu tio Doni de amarrar o meu cabelo como o do personagem Nando. Sentia às vezes, muito levemente, como se fosse ter uma crise de pânico.

No dia seguinte aquela música não saía da minha cabeça, e a sensação de iminente depressão parecia me rodear. Por volta do meio-dia bati o carro (pela primeira vez na minha vida bati em alguém). O dia seguiu num marasmo bobo, e até que fiquei bem o dia todo. Não queria dormir na Sthefany, mas o fiz, automaticamente. Na segunda-feira aquela música ainda não saía da minha cabeça. Não fiz nada de útil o dia todo, mas não me sentia mal. À noite, lendo sobre somatização e acidentes, entendi o mecanismo que me levou ao ocorrido: raiva reprimida. Pedi para aquilo sair, e quase perdi o controle. Senti vontade de bater muito em todo mundo. Namorada, sogra, primo da namorada, pai, mãe, madrasta. Um ânimo extremo borbulhava em meus bíceps. Dei umas porradinhas na parede, e fiquei de boa. Fiz uns exercícios,  fiz compras, fiz janta e fui dormir, mas o estresse e a raiva ainda me rodeavam. (Talvez, haja vista que a depressão é a raiva de si mesmo causada pela culpa, eu tivesse invertido esse mecanismo, direcionando-o para fora de mim).

Na terça-feira, ouvindo recorrentemente um áudio do Gaspa, flagrei um caso de depressão que ele constatou em uma ouvinte, e vi que se aplicava claramente a mim (revolta causada pela doutrinação que meu pai fez em mim, a típica lavagem cerebral cristã). Depressão grave é a revolta contra si mesmo e contra o mundo.

Ainda nesta manhã (de terça-feira), por pura curiosidade, vi no Wikipédia quando passou a novela Por Amor, e o tiro foi certeiro. Tal período compreende o momento certeiro, o processo justíssimo de perda de um pedaço importante da minha alma (relatar o processo é chorar migalhas e autoflagelação). Entrei num mecanismo cego de busca por este pedaço da alma, e entendi que ela só voltará para mim se eu usar a minha agressividade contra os outros, pois esta força é a minha defesa (entendi que aceito a agressividade alheia não por bondade, não porque sou calmo, mas por pura doutrinação cristã). Amarrei uma fita vermelha e preta no meu tornozelo esquerdo, para nunca me esquecer que eu estou aqui por mim, para me defender. Para fechar o meu corpo com a minha agressão a tudo o que não me respeitar.

Mudei os móveis do quarto, fiz almoço e fui pra facul. Aquela música maldita ainda ressoa em meus ouvidos como um típico earworm, mas entendo que quando ela sumir significará que o terreno está habitável para aquela parte que sofreu mais intensamente em toda a minha vida. Creio que minha alma se viu bem representada na menina no retrato da abertura da novela, por isso ela me incomodava com tanta intensidade.

Ficará mais de mil reais o conserto do carro que bati. Não disponho deste dinheiro, mas estranhamente não estou nem um pouco estressado com esta situação. Talvez seja uma boa oportunidade para eu exercer minha agressividade, usando ela para lutar por mim mesmo, e não me sujeitando à ira alheia. Não vou fugir, mas vou lutar com unhas e dentes para me preservar.

Seguirei neste processo tão intenso de luta por esta parte de mim. Muito grato e feliz por ter tido esta oportunidade tão gratuitamente. É a tal da Graça. Se eu tiver disciplina, constância e, acima de tudo, amor próprio, muita coisa mudará daqui pra frente. Encerro com o conselho de Hugg, com as palavras de meu pai genial, e ironicamente o grande “culpado” (se existisse culpa) pela perda desta parte da minha alma:

“Una-se ao criador. O mecanismo que comanda as quatro estações. Eles reconstroem às árvores e tudo o que é vivo. Tire os sapatos e una-se à mãe terra, e sua alma voltará à sua origem. Energia Pura”.
(Hugg APUD Paulão, 2017)

E mais alguns excertos constatados pelo meu velho:

“Você é a casca. O pedaço está colado na casca, é só soltar e estará completo. Nunca esteve longe, apenas separado. Sinceridade, paz e verdade são dons da alma que muitas vezes se perdem. Um desses que fica sem faz mais falta que o pelo de gato negro da poção invisível do Chaves”.
(Paulão, 2017)
Espero que me traga a paz que há tanto tempo não desfruto.



P.s: Quando em meus pensamentos comecei a brigar com a Sthefany, topei com o dedinho e quase derrubei o espelho grande.

P.p.s: Quando em meus pensamentos comecei a agredir o Paulão, falando do meu arrependimento por ter ajudado tanto ele e a Drasta, me deu uma taquicardia muito forte (me dava muito aos 13, 14 anos).

C1 - Concluo que essa revolta é tudo mentira. Para a alma não existem essas iras, desejos de vingança, orgulho ferido, vontade de destruir, nada disso. Senti um arrepio ao escrever isso. Vários, aliás. Minha alma só quer ter amigos, ser feliz, dar risadas, se sentir inserida no mundo. Tudo o que aconteceu é parte do passado, portanto, não existe.

C2 – Talvez minha alma não quer que eu fique alimentando iras na cabeça, e sim que as manifeste na vida real. Se está na cabeça é porque não foi resolvido no âmbito da realidade, foi recalcado, e agora só atinge a mim mesmo, no plano mental (só destrói a mim mesmo). Essa conclusão fez muito sentido.

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